Acervo Oral

Gravação

 

Como já descrito, a metodologia de estratificação da amostra prevê que os potenciais participantes passem por dois momentos, a saber:

 

  1. A pré-seleção, com preenchimento da Ficha social do participante   para checagem do seu perfil sociocultural e enquadramento aos critérios da amostra;

 

  1. Realização da entrevista sociolinguística, a partir de um roteiro  pré-estabelecido;

 

O (i), antecede a entrevista propriamente dita e tem por objetivo norteador a obtenção de informações relevantes sobre o participante, a saber: idade, escolaridade, ocupação (atividade profissional), contexto familiar. Já em (ii) utilizaremos o método DID (Diálogo entre informante e Documentador), com duração média de 30 a 60 minutos, seguindo o modelo de entrevista sociolinguística semidirigida, em que entrevistado e entrevistador conversarão de forma livre e espontânea sobre temas diversos, a critério do participante entrevistado. No entanto, o entrevistador terá em mãos um roteiro de entrevista que o auxiliará na condução da conversa/entrevista.  Os temas circunscrevem-se nos seguintes eixos:Pessoal;Infância;Família;Trabalho/ocupação;Lazer;Cidade/comunidade;Autorreconhecimento enquanto comunidades afro-brasileiras.

Com afirma Freitag (2017, p. 23), “para possibilitar uma amostra de fala que seja representativa da performance do indivíduo, a situação de entrevista precisa desencadear a produção de diferentes tipos textuais/sequências discursivas”. O roteiro pré-elaborado, portanto, não se configura como um questionário, visto que contempla assuntos que permitem narrativas pessoais, e possibilita ao entrevistador explorar diferentes tipos de sequências discursivas. Sendo assim, como aponta Tarallo (2007, p. 23) “a narrativa de experiência pessoal é a mina de ouro que o pesquisador-sociolinguista procura”.

Todos esses critérios já apontados, e outros a serem descritos, favorecem a coleta de uma fala menos monitorada; no entanto, não podemos deixar de relatar que, ao realizarmos entrevistas sociolinguísticas, esbarramo-nos no que Labov (2008 [1972]) nomeia como “paradoxo do observador” – há um desejo de observar a fala do indivíduo quando ele não é observado; utilizamos, todavia, gravadores e seguimos os protocolos sugeridos pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

No contexto do “paradoxo do observador” sabe-se que a presença do gravador interfere na naturalidade da situação comunicativa, porém “o pesquisador deverá tentar neutralizar a força exercida pela presença do gravador e por sua própria presença como elemento estranho à comunidade” (TARALLO, 2007, p. 21). Temos, dessa forma, investido em algumas alternativas que têm favorecido a neutralidade de paradoxo apontado por Labov, são elas:

 

  • Treinamento dos entrevistadores – com simulações em pares;
  • Realização das gravações por membros quilombolas – representatividade étnica;
  • Relatar que além do objetivo linguístico, o projeto prevê o empenho na aquisição de políticas públicas para as comunidades, bem como propostas de intervenções emergências;
  • Gravador de voz portátil de cor preta – discreto e de fácil manuseio;
  • Realizar a gravação no dia, local e hora da conveniência do participante.

 

Reiteramos que o método utilizado no processo de gravação implica um diálogo semidirigido, em que o entrevistador tentar neutralizar o ambiente de gravação, no intuito de que o falante utilize o português em ambientes informais; portanto “essa entrevista, longe de ser um questionário, deve-se constituir de uma conversa, a mais informal possível, apesar das circunstâncias, adversas, posto que o que se quer é a fala casual, habitual, dos falantes.” (SILVA, 2010, p.125, grifo nosso). Não perdendo de vista que esse processo não se constitui como uma ação passiva, um observar ocasional, é preciso cautela na condução da observação e gravação.